sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Período de seca e período de atividade

Já que amanhã é dia de festival, hoje falo de dança. O post vai ser curtinho, que tenho que dormir cedo.

Às vezes me pergunto porque é que a dança sempre retorna à minha vida com tanta força, depois de longos períodos de seca (como chamo as épocas em que fico sem fazer aula). Ela reaparece de forma tão intensa que consegue realizar transformações em diversos campos da minha vida. É uma espécie força restauradora, revitalizante. Os períodos de atividade (como chamo as épocas em que faço aulas regularmente) são sempre os mais felizes e produtivos, em que me sinto mais viva, criativa e confiante. Quando danço, escrevo melhor, consigo me concentrar mais nas tarefas diárias, cumprir promessas, ficar bem humorada. Tia Jane sempre dizia que a dança disciplina as pessoas. E é verdade.

Também me pergunto, todas as vezes que volto a dançar, porque é que fui parar. Interromper as aulas de dança é um grande erro! Mesmo que o bicho esteja pegando na faculdade, no estágio, em casa, não importa: a dança tem o lugar dela, que faz falta. É uma parada pra respirar; é um lugar pra fantasia, pro lúdico, pro corpo, pra introspecção e pro estar junto. Então, queridos leitores deste blog, deixo aqui um recado pra vocês: não deixem que eu pare. Eu posso dar a desculpa que for, mas quero que vocês digam pra mim que eu vou me arrepender muito depois e que é pra eu encontrar um horário pra ensaiar, nem que seja de dez às onze da noite.

É isso!

Muitíssimo boa sorte pra mim na apresentação amanhã.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Um blog sem leitores

Acabei de olhar na wikipedia o significado da palavra blog. Descobri que um blog típico deve combinar texto, imagens e links para outros blogs, além de oferecer a possibilidade de os leitores comentarem os posts, promovendo uma espécie de diálogo com o autor. A tal da interatividade, né?

Meu blog não se enquadra, portanto, na categoria blog. Ele não tem imagens (na verdade eu não me lembro mais como se faz pra colocar imagens), não tem links para outras páginas da internet (isso eu também não sei como se faz) e possui três ou quatro leitores esporádicos. Pra falar em termos da teoria da comunicação: é um blog nada dialógico, nada praxiológico.

Mas eu me desviei do propósito inicial deste post. Na verdade, eu só queria dizer que, ao reler o último post agora há pouco, eu reparei que numa certa parte do texto eu escrevo assim: "Mas gente, se vocês soubessem como isso é um avanço!" e tive muita vontade de rir. Porque foi como se eu tivesse conversando com leitores assíduos imaginários.

Era só isso. A onda de pesquisar na wikipedia e falar que meu blog não é um blog foi meio nada a ver.

Talvez eu divulgue o blog daqui a um tempo, quando eu já tiver aprendido a lidar melhor com as tecnologias bloguísticas e quando os posts estiverem menos nada a ver.

O que houve com a eterna apaixonada?

“Agora eu quero ser um caso.”

Era da minha boca que essas palavras tinham saído. E quase sem hesitação, com naturalidade. Só depois de proferidas é que elas me assustaram um pouco. Não por causa do conteúdo, mas porque era eu falando aquilo! Gabriela teria se orgulhado de mim. (Ela tem mania de me dizer que eu preciso parar de procurar amores e aprender a ficar sozinha).

Ao contrário de muitos amigos, cujo maior medo era passar os anos de faculdade presos a um relacionamento sério, eu sempre tive PÂNICO de passar a faculdade inteira solteira. E parece que foi praga!

Desde que terminei meu longo namoro de quatro anos que não namorei ninguém. É claro que não foi por eu não querer. Muito pelo contrário: algumas pessoas eu até quis bastante, elas é que não quiseram saber de mim. Gabriela acha que é porque quando eu conheço um cara legal, ele consegue ler na minha testa “quero namorar você desesperadamente” e sai correndo. E eu tenho que admitir que é a mais pura verdade.

Precisaram passar três anos pra eu conseguir não querer namorar; pra eu conseguir querer ser um caso de alguém, ter um caso com alguém, com vários alguéns. E ficar em paz com isso. (Em paz também é exagero, quem me conhece sabe que sou dramática e vivo reclamando). Mas gente, se vocês soubessem como isso é um avanço! Antes eu vivia cantando aquela musiquinha dos Los Hermanos “eu só aceito a condição de ter você só pra mim” e reclamando da fragilidade dos laços amorosos nessa tal de pós-modernidade, da falta de compromisso desses homens de hoje em dia! Eu querer ser um caso é MUITO legal.

“Quanto tempo você acha que dura essa sua onda, Cecília?” Uma amiga me perguntou. Não sei. Pode ser que amanhã ela passe e eu volte a querer encontrar um príncipe encantado que me leve prum castelo num cavalo branco. Mas pode ser que eu fique assim um tempo. Pode ser que amanhã eu queira apagar esse post e ache tudo que eu disse aqui uma grande bobagem.O que importa é que hoje eu quis ser um caso. E registrei aqui minha vontade.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Gravidez tubária

Quando eu tinha cinco anos e meu pai veio me buscar pra visitar minha mãe no hospital porque ela tinha tido uma "gravidez tubária", fui toda animada, doida pra conhecer meu novo irmãozinho, que tinha nascido com cara de tubarão.

Tem gente que retorna

Ontem precisei ir a Sete Lagoas pra tirar carteira de trabalho porque em BH tem que madrugar na fila se quiser ser atendido.

Eu fiquei pensando em como tudo é mais fácil em Sete Lagoas. Lá eu tenho regalias: pai que leva, mãe que busca, vizinho que quebra galho. Posso sair de casa cinco minutos antes da hora do meu compromisso que ainda chego a tempo. Tem almoço gostoso da Fátima, com feijão cozido na hora. Tem carteira de trabalho que fica pronta em cinco minutos. E sem fila na porta do Ministério do Trabalho!

Resolvi voltar pra casa de ônibus. Em Sete Lagoas a passagem custa R$1,35, mais barato que em BH. O ônibus passou em frente ao colégio Dom Silvério, onde fiz a quinta e a sexta série, e senti saudade. Depois passou em frente à minha antiga escola de dança e eu quis muito dar sinal, descer e pedir pra secretéria (que agora já deve ser outra) pra assistir um pedacinho da aula de balé da tia Márcia. Mas aí o ônibus virou a esquina e a tia Márcia ficou pra trás.

Teve uma hora que eu vi uma amiga passando de carro na rua. "O que será que ela faz aqui numa segunda-feira?", me perguntei. Foi então que lembrei que ela havia terminado a faculdade que fazia em Belo Horizonte e voltado pra Sete Lagoas pra trabalhar com o pai. "Tem gente que retorna às origens". E logo depois fiquei triste, muito triste, porque me ocorreu pela primeira vez que, mesmo que de certa forma eu esteja sempre na cidade (férias, fim de semana, aniversário doa pais), eu não volto pra ficar.

sábado, 3 de outubro de 2009

Delicinhas

Chocolate, paçoquinha, pizza, trufa de maracujá, qualquer coisa com castanha, qualquer coisa com nutella, qualquer prato que a minha mãe cozinhe, geléia de morango, vitamina de abacate. Pipoca no cinema, Sete Lagoas no domingo, água gelada no calor. Contar um conto e aumentar um ponto, dormir com chuva, acordar sentindo cheiro de café, dançar na frente do espelho, fazer aniversário, receber carta. Pés descalços, banho demorado e muito quente, ensaio geral, roupa nova, maquiagem, livro grande que não acaba nunca, Buscopam (alívio imediato), cobertor, samba no pé, sapatilha de ponta, admirador secreto, pessoas esquisitas, encontros e desencontros, coisas que vem e vão, colo do meu pai. Luis Fernando Verissimo, Pierre Bourdieu e Umberto Eco. Freud explica tudo. Harry Potter, Matilda, Jumanji, Tubarão. Rita Lee, Caetano e Maria Rita. Guilherme me imitando, abraço apertado, sorriso arrancado, beijo roubado.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Júlia

A Júlia eu conheci por acaso. Ela me deu uma aula na psicologia, pra substituir a professora, e acabou que eu gostei mais dela do que da professora. É que os olhos da Júlia brilham quando ela fala, quando explica os fundamentos da psicanálise, quando conta da pesquisa do mestrado. E eu tenho mania de me apaixonar pelas pessoas que falam das coisas com brilho nos olhos. Gosto de pessoas que vibram, de corações que se mostram.
A Júlia tem os cílios longos e olha nos olhos pra conversar. Uma sinceridade que transborda. Ela também dança contemporâneo duas vezes na semana e gosta de cinema.
Foi meio por acaso que eu procurei por ela no fim da aula, pra tirar uma dúvida. Ela me respondeu dois dias depois, com um email cuidadoso e delicado. Acabou que a gente marcou um almoço e descobrimos que temos muita coisa em comum.
Engraçado eu querer escrever um texto sobre ela. Parece coisa de menina bobinha e deslumbrada. Mas eu sou transparente assim mesmo e sempre falo demais das minhas paixões. Tem gente que acha que eu devia me mostrar menos, que não devia abrir tanto o coração. Será? Por enquanto não estou ligando muito pra isso. O fato é que amei a Júlia desde a primeira vez que conversamos e quis escrever sobre ela. Simples assim. (Acho que na psicanálise eles chamam isso de identificação).

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mais dez minutos


Eu mostrei o textinho de quinze minutos pra Xanda, que sempre sabe o que eu quero dizer com as coisas que eu digo, e ela disse uma coisa que é muito verdade: as listas nos frustram, mas também nos consolam: é um paradoxo. Talvez eu tenha me esquecido de colocar isso: a gente objetiva o desejo quando coloca no papel e isso nos acalma, nos consola. Talvez seja por isso também que eu faço listas, porque elas têm o poder de afastar o caos e fazer tudo parecer tangível. A Xanda também me disse que ela desconfia que nem tudo que a gente faz inconscientemente é acessível ao analista. E eu a-do-ro poder concordar com ela.

Quinze minutos (mesmo)

Me propus a escrever um textinho em quinze minutos, só pra ver se eu daria conta, porque geralmente eu falo que vou fazer as coisas e não faço. Talvez essa seja uma forma de começar a cumprir as promessas, de riscar os itens da minha lista de “coisas pra fazer hoje”, de provar pra mim mesma que eu dou conta. O meu analista falou que eu faço listas justamente pra não conseguir riscar os itens e ficar me lamentando por isso depois. Pode ser. Mas eu acho que eu faço listas porque tenho pressa de viver. E porque tenho medo de esquecer que tenho pressa de viver. Mentira! Na verdade, é medo de esquecer que um dia eu quis ver tal filme, saber a letra de tal música, ler fulano de tal ou ser como beltrana. Porque eu acho que o simples fato de eu colocar os desejos no papel vai impedir que eles morram em mim, vai fazer com que eu os sacie de vez. Como se as palavras fossem ações e não metáforas de ações.