quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Júlia

A Júlia eu conheci por acaso. Ela me deu uma aula na psicologia, pra substituir a professora, e acabou que eu gostei mais dela do que da professora. É que os olhos da Júlia brilham quando ela fala, quando explica os fundamentos da psicanálise, quando conta da pesquisa do mestrado. E eu tenho mania de me apaixonar pelas pessoas que falam das coisas com brilho nos olhos. Gosto de pessoas que vibram, de corações que se mostram.
A Júlia tem os cílios longos e olha nos olhos pra conversar. Uma sinceridade que transborda. Ela também dança contemporâneo duas vezes na semana e gosta de cinema.
Foi meio por acaso que eu procurei por ela no fim da aula, pra tirar uma dúvida. Ela me respondeu dois dias depois, com um email cuidadoso e delicado. Acabou que a gente marcou um almoço e descobrimos que temos muita coisa em comum.
Engraçado eu querer escrever um texto sobre ela. Parece coisa de menina bobinha e deslumbrada. Mas eu sou transparente assim mesmo e sempre falo demais das minhas paixões. Tem gente que acha que eu devia me mostrar menos, que não devia abrir tanto o coração. Será? Por enquanto não estou ligando muito pra isso. O fato é que amei a Júlia desde a primeira vez que conversamos e quis escrever sobre ela. Simples assim. (Acho que na psicanálise eles chamam isso de identificação).

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Mais dez minutos


Eu mostrei o textinho de quinze minutos pra Xanda, que sempre sabe o que eu quero dizer com as coisas que eu digo, e ela disse uma coisa que é muito verdade: as listas nos frustram, mas também nos consolam: é um paradoxo. Talvez eu tenha me esquecido de colocar isso: a gente objetiva o desejo quando coloca no papel e isso nos acalma, nos consola. Talvez seja por isso também que eu faço listas, porque elas têm o poder de afastar o caos e fazer tudo parecer tangível. A Xanda também me disse que ela desconfia que nem tudo que a gente faz inconscientemente é acessível ao analista. E eu a-do-ro poder concordar com ela.

Quinze minutos (mesmo)

Me propus a escrever um textinho em quinze minutos, só pra ver se eu daria conta, porque geralmente eu falo que vou fazer as coisas e não faço. Talvez essa seja uma forma de começar a cumprir as promessas, de riscar os itens da minha lista de “coisas pra fazer hoje”, de provar pra mim mesma que eu dou conta. O meu analista falou que eu faço listas justamente pra não conseguir riscar os itens e ficar me lamentando por isso depois. Pode ser. Mas eu acho que eu faço listas porque tenho pressa de viver. E porque tenho medo de esquecer que tenho pressa de viver. Mentira! Na verdade, é medo de esquecer que um dia eu quis ver tal filme, saber a letra de tal música, ler fulano de tal ou ser como beltrana. Porque eu acho que o simples fato de eu colocar os desejos no papel vai impedir que eles morram em mim, vai fazer com que eu os sacie de vez. Como se as palavras fossem ações e não metáforas de ações.